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Quem é o Turismo?

Para tentar fugir da mesmice de todos os sites, blogs, portfolios ou quaisquer outros meios digitais que retratam o Turismo, pensei em não escrever sobre a clássica e onipresente interrogação: o que é Turismo? Entretanto (e apesar do pouco tempo na Turismologia), acredito ter meus próprios entendimentos sobre nosso estimado Turismo e gostaria de documentá-los aqui.

Antes disso é interessante sabermos que Beni (em seu livro Análise Estrutural do Turismo) nos esclarece que há uma diferença entre ‘conceito’ e ‘definição teórica’: “o conceito fornece uma estrutura especulativa, teórica, que identifica as características essenciais e distingue o Turismo de outros fenômenos similares, (...)”. Já as definições técnicas “fornecem conceitos para uma definição geral de aplicação internacional e interna (...)”. Deste modo acredito que exporei, com o subsídio de vivências e experiências e mesclado às definições teóricas, meus conceitos.

Seguindo, quando digo onipresente me refiro ao Turismo quase como uma deidade, uma força especial que nos faz mais sensíveis e mais próximos uns dos outros. É assim que sinto a energia turística. Sei que soa curioso, mas realmente vejo a atividade como um organismo vivo, um ser nobre e, exagerando sobremaneira, como algo capaz de curar.

As definições teóricas e conceitos são tantos que estou seguro de que não devemos classificá-los entre ‘certos’ e ‘errados’; o que podemos fazer, sim, é considerar a priori aqueles criados por estudiosos com os quais nos identificamos ou com as grandes Instituições que os formulam. Para não faltar (e já caindo na mesmice que eu tentava evitar), vamos ao conceito de Turismo estabelecido pela OMT, em 1991: “o Turismo compreende atividades desenvolvidas por pessoas ao longo de viagens e estadas em locais situados fora do seu enquadramento habitual por um período consecutivo que não ultrapasse um ano, para fins recreativos, de negócios e outros”.

Retratando o turismo como uma divindade, honestamente nem imagino se ele teria pai ou mãe, no entanto, no plano terrestre, sua tutora seria Organização Mundial do Turismo – por isso a definição emanada por ela é fundamental. Sem embargo essa demarcação é costumeiramente utilizada para fins comerciais e estatísticos. O turismo é muito mais que isso. Em conjunto à OMT podemos citar um sem-número de autores que também traduziram em palavras suas impressões sobre a atividade: Hunzilker e Krapf, Glücksmann, Bormann, Rabahy, Mathielsen e Wall, Beni, McIntosh, Jafari, entre muitos outros.



Todas essas definições estão corretas? Com certeza sim. O que varia entre elas é o momento histórico na qual elas foram desenvolvidas, a ótica de análise e o ponto de vista de cada autor, e, especialmente o caráter: econômico, cultural, acadêmico, ecológico, social, espiritual,... Certa vez encontrei na internet a seguinte resposta à nossa pergunta: "para mim, turismo é tipo ir conhecer localidades, monumentos, conhecer novas coisas". Essa resposta mais simplista provavelmente veio de alguém que não se preocupava com os aspectos teóricos, mas que teve sua conceituação formulada empiricamente. Para tal pessoa, o Turismo era assim percebido. E esse conceito, está correto? Em minha opinião, também está. Da mesma forma que cada um define e imagina como seria o Ser Superior que rege nossas vidas, com o Turismo o mesmo acontece – e todos estamos corretos; uns com mais especificidades, outros com menos. Digo eu que é preciso somar toda a Teoria às considerações que nós mesmos temos dele.



Saindo um pouco da questão da significação construída por teóricos do Turismo, há uma maior dimensão da compreensão do Turismo que se refere a ele como elemento de desenvolvimento individual. Octávio Ianni, maravilhoso sociólogo brasileiro nos diz, em seu livro Enigmas da Modernidade-Mundo que “(...) tanto se perde como se encontra, ao mesmo tempo em que reafirma e modifica. No curso da viagem há sempre alguma transfiguração, de tal modo que aquele que parte nunca é o mesmo quando regressa”. E é justamente nesse pensamento que seguimos nos parágrafos próximos.



Alguns dos mais belos argumentos sobre o Turismo podem ser encontrados na Declaração de Manila sobre o Turismo Mundial (1980), que o indica como fator de aperfeiçoamento pessoal e que seria conveniente que fizesse parte do processo de formação da juventude. Já o Código Mundial de Ética do Turismo (1999), em seu Princípio II, o elaborou como “instrumento de desenvolvimento individual e coletivo”, anunciando que o Turismo deve ser praticado com abertura de espírito e que, assim, “se constituiria em um fator insubstituível de auto-educação, de tolerância mútua e de aprendizagem das diferenças legítimas entre povos e culturas, e da sua diversidade”.



Reconhecemos que o fenômeno turístico é complexo e é praticamente impossível expressá-lo corretamente; uma vez que seu conhecimento se constrói dentro de diferentes áreas de estudos e correntes de pensamento (Beni, 1998). Por isso, conceber o fenômeno turístico como tal é tarefa árdua. Como vimos, são incalculáveis as definições que a ele foram dadas; cada um pode concebê-lo desde uma perspectiva pessoal e individual, dando-o importâncias relativas. Então, como eu mesmo citei em minha Dissertação de Mestrado, delimitá-lo em poucas palavras significa perder muito de sua essência; cada um viaja por uma razão e com determinada expectativa e interpreta o turismo conforme sua cultura, vivências, desejos, motivações e predileções.



Independente da definição que escolhemos, creio que o mais bonito do Turismo (e ainda crendo nele como algo divinal) é o fato de que ele pode operar milagres. Pode curar-nos dos males dos tempos modernos, dos desentendimentos criados pela ignorância e da falta de conhecimento que temos de nós mesmos.



Talvez a modernidade nos permita mudar essa pergunta e não mais nos referirmos ao turismo como ‘o quê’, mas como ‘quem’. Então, quem é o turismo? Certamente ele é alguém com nome – e sobrenome – importantes. A era atual transmutou o turismo de tal forma que o consideramos como uma entidade real que pode ser assumida com face humana, quase de carne e osso. Este ente está presente em muitos lares, em distintas ideias, em diferentes desejos que permeiam a vida de todos como uma névoa visível, porém impalpável. É o turismo humanizado, que de tão bem quisto, tornou-se um familiar próximo, um amigo de todas as horas, um ‘alguém’ com quem desabafar e ser ouvido.



Eu, com a ajuda de minha turma de alunos do estado de São Paulo, travamos uma discussão similar a essa temática e elencamos algumas palavras que nos remetiam ao Turismo. Eis o resultado:



​​Sensação. Emoção. Liberdade. Conservação. Conscientização. Planejamento. Interação. Experiências. Informações. Natureza. Cultura. Raízes. Gastronomia. Valores. Felicidade. Confiança. Bem-estar. Segurança. Conforto. História. Lazer. Conhecimento. Integração. Origens. Originalidade. Sentimentos. Inovação. Qualidade. Descobrimento. Qualidade de vida. Autenticidade. Criatividade. Aprendizagem. Desenvolvimento. Verde. Adrenalina. Desporto. Alegria. Sustentabilidade. Sonhos. Concretização.​​

Sinceramente? Fiquei mais que surpreso, porque sim! O Turismo é tudo isso. E é construção, evolução, crescimento. E afinal, quem é o Turismo? Posso dizer, com fé, que ele é o Senhor Felicidade.

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